A gripe dos porcos

maio 2, 2009

O espetacularismo midiático com notícias apocalípticas é uma atividade comum na imprensa, especialmente quando as matérias de gaveta tornam-se manchetes por dias seguidos nos veículos impressos, online e eletrônico.

Na edição da sua newsletter de ontem, dia 1º, o Knight Center traz um bom texto com links sobre a opinião de estudiosos da mídia sobre como esse devaneio informativo pode ser irresponsável e sem sentido.

Segue abaixo o texto na íntegra. (

Para analistas da mídia, intensidade da cobertura sobre o vírus causa pânico desnecessário

Em pouco tempo, o H1N1 influenza A, nome científico da “gripe suína”, tomou conta dos meios de comunicação em todo o mundo, ganhando destaque também na blogosfera, em redes sociais como o Facebook, e no Twitter. Mas analistas da mídia acreditam que a intensidade da cobertura sobre a doença esteja aumentando o nível de ansiedade da população, diz o Observatório da Imprensa. (Veja a cobertura da imprensa brasileira aqui.)

“Há uma diferença entre manter nossos leitores e telespectadores informados e espetacularizar a história”, diz a blogueira e co-fundadora do Huffington Post Arianna Huffington, segundo o Observatório. “A mídia tende a gostar de cenários apocalípticos, como o da gripe aviária e o do bug do milênio”.

Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez acusou os meios de comunicação privados de conduzir de maneira irresponsável o tema, e assim criar “angústia” na pessoas.

Vinicius Torres Freire, colunista da Folha de S. Paulo, critica a cobertura exagerada da mídia brasileira, que levou milhares de paulistanos às farmácias, numa busca sem sentido a “antissépticos e remédios pesados para a gripe”. “Dengue, malária, disenterias que matam milhares devido a condições sanitárias indecentes, atropelamento, facada, tiro -morrer disso, tudo bem. É coisa nossa. Mas um vírus por ora apenas midiático leva multidões às farmácias”, diz Freire em sua coluna, disponível na íntegra apenas para assinantes do jornal.

A opinião de Hamilton Nolan, do Gawker.com, um blog que discute com humor as notícias e as fofocas da mídia americana, é parecida: “há muitas outras doenças mortais por aí, matando pessoas todos os dias”. No México, diz o blogueiro, epicentro do surto e onde o sistema de saúde é muito mais precário que o dos Estados Unidos, “somente 103 pessoas foram mortas” pelo vírus. “É um número bem menor do que o de pessoas mortas pela guerra dos cartéis de droga em Juarez“, diz Nolan, que completa: “É uma reportagem de página B-3 que foi colocada na A-1”.

O frenesi foi tamanho que um exército de repórteres e fotógrafos foi até o pequeno município mexicano de La Gloria, no estado de Veracruz, para falar com o garoto de cinco anos identificado como o “paciente zero” da doença. O menino, a propósito, está saudável (mas ainda sob o microscópio da imprensa mundial).

A Associação Nacional de Jornalistas Hispânicos dos Estados Unidos (NAHJ, por suas siglas em inglês) manifestou em nota preocupação com a cobertura midiática americana sobre o vírus e pediu que os jornalistas informem os fatos de forma mais justa, verdadeira e equilibrada. Para o grupo, há na imprensa uma tentação em ligar imigrantes mexicanos com a propagação da doença nos Estados Unidos, causando ainda mais raiva e violência contra uma comunidade não mais responsável pela disseminação do H1N1 do que turistas americanos retornando de suas viagens de férias no México.

E você, o que acha da cobertura da mídia sobre o vírus H1N1?

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